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13,75% de juros é uma vitória dos banqueiros e uma derrota para Lula e para os trabalhadores




Pela estatização do Banco Central e de todo o sistema financeiro!

O Banco Central acaba de impor uma grande derrota ao governo Lula e condenar por estrangulamento o modo de vida da maioria dos brasileiros para enriquecer o punhado de banqueiros que o controlam

A taxa de juros do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC) foi ratificada em 13,75%, ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do dia 22 de março. Apesar das declarações e movimentos em contrário de Lula, parlamentares de esquerda, de alguns economistas liberais, de membros do governo, das (limitadas) manifestações de rua puxadas pela Frente Brasil Popular e pelas Centrais sindicais, a manutenção dessa taxa de juros possui vários significados importantes a serem entendidos pelos trabalhadores.

Primeiro, os títulos do Tesouro Nacional emitidos pelo BC que são comprados e vendidos diariamente pelos especuladores, continuarão sendo os mais bem remunerados do mundo.

Segundo, sendo assim, a aplicação na compra desses papéis oferece os maiores ganhos do que qualquer outra remuneração especulativa. Após o anúncio do Copom, até a bolsa de valores e o mercado geral de ações do país despencou. Porque houve uma migração para os investimentos relacionados ao Tesouro Direto. Porque é muito mais lucrativo comprar esses papeis improdutivos do que mesmo comprar ações, para não falar em investimentos industriais e produtivos.

Terceiro, a banqueirada representada por Campos Neto, presidente do Banco Central brasileiro, detentora de um poder independente e autocrático, definiu tolerância zero para qualquer firula de nacionaldesenvolvimentista e nem sequer admite recuar do ultraliberalismo para o neoliberalismo praticado pelos governos pré-golpes de FHC a Dilma.

Quarto - e isso é muito importante, porque são as conclusões sociais e políticas dessa derrota - o capital financeiro vai continuar apertando o torniquete em torno da garganta da população brasileira e das míseras aspirações sociais do governo Lula. Indica que, no âmbito da política monetária, estão mantidos os postulados sobre os quais se apoiaram o golpe de estado de 2016: chega de conciliação de classes e de conquistas sociais. Querem um Lula apenas testa de ferro deles para dar continuidade ao ciclo de acumulações iniciado com o processo golpista. Não há margem para as políticas públicas, não há margem para qualquer reformismo, não há tolerância para a revogação da herança maldita das contrarreformas (trabalhista, previdenciária, do ensino médio), privatizações, e muito menos que retome o controle do próprio Banco Central. Não é aceitável para os banqueiros qualquer retrocesso no que o processo golpista avançou contra o povo e seus direitos.

Quinto significado e a lição que os trabalhadores precisam tirar disso tudo: Lula, seus porta-vozes, parlamentares, economistas e sindicalistas não são fortes o suficiente ou não estão interessados o necessário e realizar uma queda de braços para valer para derrotar os banqueiros, derrotar as contrarreformas, a herança maldita, reindustrializar o país, como não é esse o interesse da tradicionalmente escravocrata burguesia brasileira. Todas essas tarefas cabem aos trabalhadores organizados em frente única com os demais lutadores sociais mas para além das direções petistas e cutistas, que se mostraram incapazes de derrotar o capital financeiro e se portam apenas como lobistas de outras frações do capital, como se todas as frações não fossem sócias ou reféns da banqueirada.

Sexto: Lula até agora não utilizou todas as forças disponíveis contra o BC, núcleo de poder da banqueirada e que determina os rumos do funcionamento da economia financeirizada brasileira. Como bem lembra Ladislau Dowbor em seu livro “A era do capital improdutivo”: “quando o governo Dilma tentou reduzir os juros absurdos (tanto sobre a dívida pública como para pessoas jurídicas e pessoas físicas) em 2013: eles partiram para a guerra total.” (p. 163-164). Ou seja, se Lula não enfrentar a banqueirada mobilizando toda força que o povo deu a ele nas eleições de 2022 para vencer eleitoralmente ao fascismo, o que, até agora, não ocorreu por parte do governo, do PT, nem das direções sindicais e populares, poderá de derrotas em derrotas, como essa do dia 20 de marços, perder a guerra e permitir a continuidade do desemprego, da miséria, da fome e frustrar seu eleitorado, para ao final, como Dilma não ter quem o defenda quando a direita se aproveitar dessa situação para levantar a cabeça novamente. Mas, pode ser ainda pior, capital governar tendo um Lula debilitado como fachada. Lula ficará com a desmoralização e os capitalistas seguirão com os lucros estratosféricos.

A manutenção da taxa de juros em alta pelo BC brasileiro aconteceu também depois do início da quebradeira de bancos dos EUA e UE, a partir das altas taxas de juros praticadas pelo FED, o BC americano, apesar de quê, bem menor que a taxa de juros do Brasil. Ainda assim, o BC brasileiro seguiu acelerando as taxas de juros para cima, confiante, como os especuladores estadunidenses, que se houver qualquer falência, os recursos do Estado vão cobrir, resgatar aos banqueiros da falência, como faz o governo capitalista dos EUA e de todas as partes, para depois repassar a conta do prejuízo para o povo que ficará (ainda mais) falido e miserável.

Como na entrevista de Michael Hudson que traduzimos e publicamos, o pensamento dos gerentes dos Bancos Centrais que justificam o aumento dos juros sob a cretina justificativa de buscar “combater a inflação” é, na verdade alimentar a especulação com a miséria dos assalariados, fabricar ricos, fabricando pobres:

“Precisamos ter dois milhões de americanos desempregados para reduzir os salários para que as empresas possam obter lucros maiores, para pagar preços de ações mais altos.”
“Porque se não causarmos desemprego, se não baixarmos os níveis salariais para a América, os níveis de lucro cairão e os preços das ações voltarão a cair, e nosso trabalho no Fed é aumentar os preços das ações, aumentar os preços dos títulos, aumentar os preços dos imóveis”.
Então, finalmente, eles começaram a aumentar as taxas [de juros] para – como eles dizem – “conter a inflação”.
Quando eles dizem “inflação”, o que eles querem dizer é “aumento dos salários”. (Por que 3 bancos dos EUA quebraram em 1 semana: o Economista Michael Hudson explica)

Como Hudson deixa claro, a aposta na alta de juros visa criar deliberadamente desemprego e desespero na classe trabalhadora para obriga-la a trabalhar mais, por menores salários, para aumentar a exploração da mais valia, os lucros patronais, o preço das ações, dos títulos, dos imóveis. Hudson também explica, que a inflação e os jogos com os juros são meios de aumentar a exploração do trabalho, armas da guerra de classe do capital financeiro contra os trabalhadores.

A luta contra o capital financeiro pela disputa do controle do Banco Central não é a única luta que pode ser realizada nesse momento. Existem muitas outras dimensões dessa luta e em muitos outros terrenos, por reformas de base e estruturais, como as reformas agrária e urbana, contra a especulação fundiária e imobiliária (também associada ao capital financeiro), e expropriação e estatização de todas as empresas com trabalho escravo, a revogação de todas as contrarreformas golpistas, a reestatização de todas as empresas privatizadas desde a década neoliberal de 1990. Todas essas medidas, em maior ou menor grau vão entrar em confronto com o capital financeiro que hegemoniza o capitalismo e com quem os demais setores burgueses são sócios contra os trabalhadores.

Nós defendemos as condições de vida da população contra o desemprego, a miséria, a fome e a marginalidade. Defendemos o fim da escravidão por dívida da população trabalhadora e das classes médias por esse mesmíssimo sistema financeiro, defendemos a anistia geral e irrestrita de todas as famílias de assalariados e das pequenas e médias empresas.

Para isso, é preciso muito mais mobilização social do que foi feito até agora, para acabar com o atual ciclo de acumulação de capitais especulativos as custas de nossa miséria, para que Lula não tenha o mesmo destino de Dilma, por um verdadeiro governo dos trabalhadores e não dos banqueiros.

Os setores reformistas da esquerda defendem a redução de juros e o fim da autonomia do Banco Central em favor da burguesia produtiva. Na era da financeirização, a burguesia produtiva basicamente é uma figura mitológica. O objetivo da burguesia é o lucro máximo, ela prefere lucrar seja como for, se a migração de seus investimentos lhe rende mais retorno especulando do que produzindo, ela o fará.

Não há como escapar de uma realidade simples: abrir uma empresa, contratar trabalhadores, produzir e pagar impostos é muito mais trabalhoso do que aplicar em papéis da dívida pública, mas é o que estimula a economia. Quando você compra papéis, eles podem render, mas você não produziu nada, apenas gerou rendimentos sem contrapartida e, a partir de certo nível, isto se torna um peso morto sobre as atividades econômicas em geral. (Dowbor Ladislau, A era do capital improdutivo, p. 155-156)

Por outro lado, há setores da esquerda que desprezam sectariamente a luta pela redução do juros e pelo controle do Banco Central, acreditando que essa disputa se trata de preocupações meramente burguesas.

A função de um Banco Central é servir ao povo, conceder crédito negativo, subsidiado para todas as necessidades, individuais, familiares e coletivas da classe trabalhadora. Como pensava o revolucionário bolchevique V. I. Lenin (1870-1924): "sem um grande banco o socialismo seria impossível" e "o estabelecimento de um Banco Central é 90% da 'comunização' de uma nação". Por isso, defendemos o controle absoluto sobre o BC por parte da classe trabalhadora, contra o controle absoluto exercido hoje pelos banqueiros, luta que precisa estar associada a estatização de todo o sistema financeiro, de todos os bancos no Brasil, como parte da estratégica por um governo dos trabalhadores.

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