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O Sucesso da Gestão Paulo Guedes


Fábio Sobral, professor de economia da UFC

É comum pensar que um governo e seus ministros trabalham para o bem do país. Ou ainda que inflação, desemprego, concentração de renda e riqueza, injustiça social, alta do dólar são expressões do fracasso de um ministro da economia. Nessa concepção a crise econômica seria a comprovação da incompetência dos setores governamentais na gestão da economia.

Mas a realidade é bem distinta. A sociedade é dividida em classes sociais e seus interesses são opostos. Os governos não podem trabalhar para o benefício do conjunto do país. Mesmo em momentos de crescimento econômico em que todos elevem seus rendimentos - o que nem sempre ocorre, pois pode haver crescimento com empobrecimento – os interesses sociais são distintos. E nas crises as taxas de lucros podem ser maiores para os setores mais ricos.

Esse é o retrato do Brasil atual. Há fome grave entre 19 milhões de pessoas, além de 116 milhões em insegurança alimentar (aqui). Desemprego para 13 milhões (aqui). 33 milhões de trabalhadores recebem menos de um salário mínimo mensal (aqui). A renda média das camadas trabalhadoras atingiu sua mínima histórica R$ 2.477,00 e há um recorde de pessoas trabalhando por conta própria, 25,9 milhões de pessoas (aqui).

Além disso, a inflação bate recordes mês após mês (aqui). A inflação de preços administrados – aqueles que o governo interfere, como combustíveis, gás, passagens, remédios, planos de saúde, água, energia elétrica – é responsável por grande parte desse processo de elevação generalizada dos preços. A inflação de alimentos chega a 40% nos últimos três anos (aqui).

A taxa de juros definida pelo Banco Central sobe impiedosamente. De março de 2021 a abril de 2022 subiu de 2% para 11,75%. E em breve chegará a 13,75 (aqui). A justificativa é que sua alta irá controlar a inflação. Na verdade, provoca uma transferência de renda das camadas assalariadas para os donos da dívida pública, grandes bancos e agências de investimentos. Uma espécie de subsídio dado aos mais ricos pelas camadas mais pobres.

Poderíamos ingenuamente pensar que esses dados demonstram o fracasso da gestão Paulo Guedes no Ministério da Economia. Que sua competência está sob suspeita. Que o governo é vítima de fatores incontroláveis. Ou até que o presidente não tem participação na culpa.

Na verdade, Paulo Guedes e Bolsonaro são extremamente bem-sucedidos. Eles servem aos setores do grande capital, tais como latifúndios, mineradoras, bancos, fundos de especulação financeira, operadores do mercado de dólares, devastadores ambientais, federações industriais. Eis o seu sucesso. O que é terrível para a maioria da população é ganho para um grupo diminuto que controla os meios de vida.

A inflação é proposital. Ela tem sido dirigida pelas elevações constantes dos preços administrados pelo governo. O maior exemplo é a política de contínua elevação de preços da Petrobras. Ardilosamente Bolsonaro tenta dizer que nada pode fazer, ou até demonstrar indignação fajuta.

O dólar sobe, beneficiando os setores empresariais que podem subir os preços de seus produtos. Os salários continuam em reais e perdem seu poder de compra.

O governo provoca crises institucionais também para que o dólar suba. Quem lucra com tais variações no valor da moeda americana?

Por que as taxas de juros governamentais continuam a subir se elas não reduzem a inflação?

Por que o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, defende com unhas e dentes a perda de direitos trabalhistas?

Os ganhos do capital se tornaram inigualáveis. Quatro bancos no Brasil estão entre os dez mais rentáveis do mundo (aqui). A Petrobras aumentou o seu lucro em 1400% de 2020 para 2021 (aqui). As 240 maiores companhias de capital aberto viram seu lucro crescer 22% só em 2021 (aqui).

Precisamos voltar aos economistas clássicos. David Ricardo, por exemplo, sabia que um governo não beneficia a todos. Karl Marx, em sua poderosa crítica a estes economistas políticos demonstra que a acumulação de capital ocorre em benefício dos capitalistas. Algo comprovado empiricamente por Thomas Piketty em seu livro “O Capital no Século XXI”.

Por favor, não digam que Paulo Guedes é incompetente. Sua competência é incomparável. Os ganhos da parcela mais rica e de suas empresas se eleva exponencialmente. Ele serve a essa monstruosidade. Seus objetivos estão sendo atingidos. O seu programa de ação é o mesmo da Ditadura: baixos salários, lucros altos, ganhos financeiros e cambiais, fome, miséria, violência.

A economia é luta política. Luta de classes. Competência é definida por esse padrão. Paulo Guedes serve para produzir o nosso caos cotidiano. É primoroso em seu sucesso. Bolsonaro é o sucesso dos muito ricos!

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