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Chile, 11 de setembro de 1973: um alerta para Lula e seus estrategistas


Frederico Costa [1]

Há 49 anos no Chile ocorria, no dia 11 de setembro, um golpe militar que instaurou um dos regimes mais sanguinários da América Latina. O golpe liderado pelo general Pinochet pôs fim ao governo Unidade Popular (UP), liderado por Salvador Allende, eleito democraticamente em 1970.

Nessa época, o Chile possuía 9 milhões de habitantes em um território de 756.000 quilômetros, em grande parte desértico, onde apenas 3% eram aráveis, com uma base energética frágil, um PIB de US$ 13 bilhões e profundamente dependente da extração do minério de cobre, que correspondia a 75% de suas exportações.

O governo de Allende foi de frente popular, isto é, uma coalizão de partidos operários, Partido Socialista (PS) e Partido Comunista (PC), com o pequeno Partido Radical (PR) burguês e alguns democratas cristãos. O governo da UP foi um governo reformista baseado na tese do "caminho pacífico para o socialismo", no compromisso com a propriedade privada capitalista e com ilusões no imperialismo estadunidense.

A Unidade Popular chegou ao governo como produto do acirramento da luta de classes. Em março de 1966, tropas lideradas pelo então coronel Pinochet mataram oito trabalhadores na cidade mineira de cobre de El Salvador. No ano seguinte, ocorreu uma onda de greves nas minas, siderúrgicas e outras indústrias, enquanto trabalhadores agrícolas e camponeses sem terra ocupavam latifúndios.

O governo da UP desde o início se baseou em um acordo tácito com a Partido Democracia Cristã (DC), partido burguês dominante. Os votos dos democratas cristãos no Congresso garantiram a Allende o apoio necessário para aprovação de tímidas reformas. O programa da Unidade Popular exigia algumas nacionalizações, notadamente de minas de cobre. Na reforma agrária do governo Allende os camponeses deveriam pagar pelas terras que recebiam. Enquanto isso, a maioria das grandes fazendas capitalistas permaneceram intocadas.

O governo da UP adotou uma política de não confronto com os direitistas e reforçou a repressão contra os trabalhadores, enquanto tomava o caminho de políticas austeridade para não provocar as classes dominantes.

Em 1972, os caminhoneiros, apoiados pela burguesia e setores pequeno burgueses, organizaram uma paralização nacional. Como resposta, Allende fez mais concessões para a direita convidando líderes militares para o governo e nomeando o general Pinochet como comandante do exército. Para piorar, Allende promulgou uma lei que permitia ataques não anunciados pelos militares em busca de armas. Sob a alegação que era uma lei contra "extremistas" de direita e de esquerda, ela foi usada exclusivamente contra sindicatos, trabalhadores que ocupavamm fábricas e partidos operários. Enquanto isso, grupos fascistas como “Patria y Libertad” acumularam estoques consideráveis de armas.

Nos últimos meses do governo Allende, setores do proletariado começaram a movimentar-se com independência de classe, formando os "cordones industriais" nos cinturões industriais ao redor de Santiago na defesa dos seus interesses. Uma situação de polarização social e política amadureceu com o surgimento dessas formações embrionárias de duplo poder. Ao mesmo tempo, o governo da UP não reconheceu que sua sustentação estava nas massas populares e não nas concessões à burguesia golpista e ao aparato estatal burguês.

No 11 de setembro comprovou-se que o imperialismo estadunidense, a burguesia chilena, a cúpula militar e a burocracia estatal não estavam interessados nas reformas da UP nem na independência política do proletariado chileno.

Quais as lições do golpe de Estado de 1973 no Chile para o Brasil de 2022?

Infelizmente, a direção da campanha de Lula prefere confiar nos golpistas de 2016, nos Alckmins da vida, na FIESP, no agronegócio, nos militares, no STF, nos parlamentares do “centrão”, nos oligopólios da indústria da comunicação e nas oligarquias regionais. As direções do PT, do PC do B e do PSOL não superaram as cartilhas surradas da social-democracia e do stalinismo: deixam as ruas para a extrema-direita, têm medo de assustar a burguesia brasileira, querem ser apresentáveis ao imperialismo e priorizam a disputa eleitoral.

Mas, os interesses capitalistas não ligam para as boas maneiras das direções reformistas, a burguesia nacional e o imperialismo querem lucrar, custe o que custar, o povo que se dane.

E as trabalhadoras e trabalhadores brasileiros? O que fazer?

Devem votar em Lula contra Bolsonaro e o golpismo. Mas, além disso, devem alcançar a maioria política, lutar por seus próprios interesses e com seus métodos de classe.

Em 2023, nos 50 anos do golpe militar contra os trabalhadores chilenos, vamos responder com luta pelos direitos do povo brasileiro e que o governo Lula, eleito pela maioria nacional oprimida, rompa com os golpistas. Golpes nunca mais!

[1] Professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE e coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisa do Movimento Operário – IMO.

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