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Da Imprensa Operária e Revolucionária (2013)

Por uma imprensa que sirva de instrumento para a
conquista dos interesses históricos do proletariado


A LC reformulou sua imprensa, aprimorando os instrumentos de divulgação de seu programa para que realizem melhor as três formas de luta: teórica, econômica e política [1]. Deste modo, damos um passo adiante na tarefa de construção do partido comunista revolucionário dos trabalhadores. A partir de agora, refletindo o crescimento (ainda que molecular) e o amadurecimento da LC na contramão da moda da "militância virtual", nossos impressos vão adquirir maior peso em nossa atividade militante, estreitando o contato pessoal, "homem a homem", com nossos leitores.


Com estas medidas, não estamos criando a pólvora, apenas retomando os bons e velhos métodos dos revolucionários que nos antecederam, em meio a deserção hegemônica na esquerda em direção ao mundo da "revolução" virtual e individual. De nossa parte, os nossos instrumentos virtuais blog e facebook servirão de auxiliares da nossa propaganda impressa. Teremos então três tipos de órgãos impressos: O Bolchevique, Folha do Trabalhador e os Boletins da LC, uma revista teórica, um jornal e panfletos, respectivamente. O Bolchevique e Folha do Trabalhador serão completamente reformulados, assumindo funções distintas em relação às que tiveram até agora.

Boletins de Agitação reivindicativos e o Bolchevique como Revista Teórica


Em cada uma das categorias em que a LC possui hoje um trabalho estrutural, seja por meio de colaterais de nossa organização seja em frentes sindicais com setores independentes, editaremos boletins de agitação específicos assinados por núcleos da própria LC como nos professores e nos bancários ou como Vanguarda Metalúrgica, nesta categoria, e dos panfletos da Corrente de Trabalhadores da Saúde.

Nesta publicação, seguiremos a risca as recomendações do camarada Trotsky acerca dos periódicos fabris:

"aproximem-se dos trabalhadores com as mais simples reivindicações e palavras de ordem, as quais brotam diretamente da vida nas fábricas. Não se apressem em dizer tudo em cada osasião, ou seja, em cada artigo. Cada dia tem sua tarefa.(Trotsky, Periódico de fábrica e periódico teórico, 27/01/1938).

Estes panfletos de agitação cumprirão a tarefa de dar a resposta imediata no campo da agitação. Esta tarefa não pode ser exercida por órgãos informativos de caráter propagandístico semestrais, como passará a ser O Bolchevique, nem por órgãos agitativos maiores, mas de periodicidade bi-mensal (período de regularidade correspondente aos atuais limites organizativos da LC), como será a Folha do Trabalhador de agora em diante.

Os boletins da LC embora se dediquem à luta econômica e reivindicativa, servirão para ligar a teoria à prática, em oposição ao economicismo, pois

A agitação é um método para fomentar a atividade das massas, e não são os marxistas os únicos a utilizarem-na; a burguesia tem uma enorme e velha experiência neste sentido. Mas uma e outra agitação são em absoluto distintas. Só ‘a justa solução teórica assegura o êxito sólido da agitação’, dizia Lênin no II Congresso do Partido. O menosprezo pela teoria e a subestimação da sua importância – 'absolutamente independente da vontade de quem a faz' – significa ‘fortalecer a influência da ideologia burguesa sobre os operários’.” (Nadejda Krupskaia, Lênin, Propagandista e Agitador, 1939).

Esta especialização de nossos orgãos de propaganda e agitação não significa que realizamos as três formas de luta: teórica, reivindicativa e política, de forma separadas, mas, combinadas, pois, como bem indica Lenin, citado por Krupskaia, "a justa solução teórica assegura o êxito sólido da agitação".

Por isso, possuir um boletim de agitação com as reivindicações mais simples exige da LC, de forma complementar e compensatória, possuir um orgão teórico que apresente respostas de formas profundas e complexas sobre a a luta de classes.

"... Com a finalidade de fazer esse trabalho de massas disperso e descoordenado, o pensamento do partido deve estar suficientemente centralizado e encontrar sua inspiração diária em um laboratório onde todas as perguntas, inclusive as mais complexas, sejam analisadas e enfocadas com sutileza. Periodicamente, o Banco da França é obrigado a renovar suas reservas de ouro de tal modo que o dinheiro em circulação não se desvalorize pela inflação.

"Não sei qual é a atual tiragem de Lutte, mas existem milhares de trabalhadores na França que não somente são capazes de entender um artigo que toma um ponto de vista mais amplo, mas que exigem a imprensa dos trabalhadores respostas mais profundas as mais complexas perguntas postas pela situação mundial.

"... ao transformar o orgão central do partido em um certo tipo de periódico de fábrica, vocês nunca chegarão as massas e, ao contrário, perderão seu caráter político distintivo e, com ele, seus próprios membros.

"... como disse o apóstolo, se esforçem pelos mosquitos e tragam camelos. Creio que a dificuldade da seção belga pode explicar-se até certo ponto pela falta de um periódico teórico em francês. A importância deste problema não pode ser exagerada. Estes são tempos agitados e as massas estão inquietas. Os trabalhadores mais inteligentes, que sobretudo tratam de aprender o que acontece, não estarão satisfeitos com a simples repetição das consignas comuns. Deve-se dar a eles uma resposta completa. Uma dezena ou uma centena de trabalhadores deste calibre, que podemos ganhar para nossas ideias gerais, podem trazer a milhares e milhares de trabalhadores para o nosso movimento.

"Nada disto está dirigido de forma alguma contra o trabalho massivo. Nosso trabalho nos sindicatos é decisivo. O pior erro cometido pelos camaradas de Borinage foi gastar seu tempo, energia e prestígio criando "sindicatos" para sua própria satisfação. Se inspiraram, não na experiência de décadas, nem nas lições dos primeiros quatro Congressos da III Internacional mas, no exemplo de um burocrata sem programa nem princípios como Sneelvliet. [Nesta parte, Trotsky nos dá uma bela orientação do quanto foi errado seguir a um partido sem princípios como o PSTU em sua ruptura com a CUT].

"O trabalho nos sindicatos reformistas, repito, deveria estar em primeiro plano. Mas para que este trabalho possa ser levado a cabo de uma maneira verdadeiramente revolucionária, o partido deve ter um bom periódico central e um teórico. (Trotsky, Periódico de fábrica e periódico teórico, 27/01/1938).

O Bolchevique (OB) passará a ser uma revista semestral, com o mesmo tamanho que tem hoje, mais páginas, mas, a partir de agora destinada a propaganda e a luta teórico-ideológica, a dar as "respostas completas" que um setor avançado do proletariado exige e com textos dirigidos à formação política e a polêmica no interior da vanguarda militante.

O novo Folha do Trabalhador como jornal central de luta política da LC


Folha do Trabalhador (FdT) que antes assumia a tarefa sindical e agitativa voltado a acompanhar as lutas específicas passará gradativamente a ser o periódico central e mensal da LC dirigido fundamentalmente à luta política, combinando a agitação e a propaganda da organização, em tamanho standard, com a letra maior e tiragem de mil exemplares destinado a publicitar a política da LC para amplos setores da classe trabalhadora. Através da luta política buscamos construir um órgão informativo onde o conteúdo do jornal e a militância diária não sejam tarefas autônomas, mas complementares para a organização coletiva da nossa luta política em Congressos, reuniões, palestras, discursos, greves, campanhas salariais.

Nossa imprensa deve combinar habilidade propagandística e coragem de dizer a verdade dos trabalhadores, rompendo com a opinião pública fabricada pelas classes dominantes.

A elaboração da FdT será uma tarefa ainda mais difícil do que a de uma revista para quadros. Vai requerer um aprimoramento permanente da forma escrita para melhor apontar as palavras de ordem e orientações que favorecem o avanço da consciência e da organização política das massas em correspondência a atual situação objetiva da luta de classes. Em outras palavras, de cada acontecimento ou fenômeno vai tirar conclusões e estabelecer posições através do método do marxismo revolucionário e baseando-se na própria experiência das massas.

Não é uma tarefa simples porque se trata de acompanhar o aprendizado das massas com a própria luta de classes não subestimando a capacidade de compreensão do leitor como fazem os céticos e também os demagogos aduladores. É preciso descrever os acontecimentos de forma correta, clara e inteligível para conduzir o leitor a tirar as conclusões às quais chegamos primeiro através da compreensão do mesmo acontecimento por meio do materialismo dialético. Sobre isso, Trotsky chama a atenção:

Caros colegas jornalistas: o leitor lhes suplica que evitem dar-lhes lições, fazer sermões ou serem agressivos, mas sim, que descrevam clara e inteligivelmente o que se passou, onde e como. As lições e as exortações ressaltarão por si mesmas. O escritor, e em particular o jornalista, não deve partir do seu ponto de vista, mas do ponto de vista do leitor. “É uma distinção muito importante, que se reflete na estrutura de cada artigo em particular e na do jornal em conjunto. No primeiro caso, o jornalista (inábil e pouco consciente do seu trabalho) apresenta simplesmente ao leitor a sua própria pessoa, os seus próprios pontos de vista, os seus pensamentos e até, com freqüência, as suas frases. No outro caso, o jornalista que encara a sua tarefa com rigor, leva o leitor a tirar por si mesmo as conclusões necessárias, utilizando para isso a experiência cotidiana das massas.” (Trotsky, “O Jornal e seu leitor” em “Questões do modo de vida”, 1923)

Lenin também apontava no mesmo sentido:

Falar numa linguagem simples e clara, acessível às massas, abandonando decididamente a artilharia pesada dos vocábulos sábios, das palavras estranhas, das palavras de ordens, definições e conclusões aprendidas de antemão, mas que as massas ainda não entendem, nem conhecem.” (Lênin, “A socialdemocracia e os acordos eleitorais”, 1906).

Mas isto nada tem a ver com fazer populismo demagogo com as massas. Como apontava o mesmo Lenin em “O que fazer?”, “... não me cansarei de repetir que os demagogos são os piores inimigos da classe operária”. Os demagogos tentam converter estas orientações de Lenin e Trotsky em recomendações para baixar o nível do jornal ao nível da consciência do leitor e tomar carona na propaganda dominante como, por exemplo, centrando a luta política contra os governos do PT, na luta contra a corrupção como faz o PSOL, bem como todos os corruptos e demagogos políticos burgueses.

Os oportunistas se dedicam a fazer mais um jornal “de esquerda”, a adular os leitores, a deixar de combater os preconceitos incutidos neles pela ideologia dominante, a escrever de forma ambígua, a ativa e deliberadamente vender derrotas como vitórias. Por exemplo, como quando o “Opinião Socialista”, jornal do PSTU, trata de passar para seus leitores que a contrarrevolucionária restauração capitalista na URSS ou o recente golpe de Estado no Egito foram “revoluções”.

Nós tomamos posição diante dos fatos e conduzimos o leitor às conclusões que acreditamos serem necessárias para avançar sua consciência revolucionária. Por isso é preciso desvendar amplamente os interesses de classe contidos nas informações, desinformações e análises da imprensa da classe dominante, predominantemente vinculada à oposição burguesa pró-imperialista, em suas diversas variantes escritas (Folha de São Paulo, Veja, Estado de São Paulo, Época, Istoé,...) áudiovisuais, televisivas, radialísticas e pela internet.

É preciso desmascarar de forma contundente a imprensa burguesa “de esquerda” ligada ao PT, PCdoB e seus satélites porque ela não passa de um porta-voz dos interesses destes partidos aburguesados e do governo burguês de Dilma.

Por fim, não podemos deixar de combater também a imprensa oportunista ligada ao PSOL e PSTU que atinge um pequeno setor da vanguarda dos assalariados, porque não passam de caixas de ressonância dos dois bandos fundamentais patronais em disputa, muitas vezes servindo à oposição burguesa, à reação pró-imperialista e anticomunista da chamada opinião pública burguesa, que estes partidos tratam de adornar com uma fraseologia “marxista” e as vezes “trotskista” como, por exemplo, faz de forma infame o “Opinião Socialista” do PSTU em relação à “revolução síria”, à importação de médicos cubanos para o Brasil ou aos black blocs.

O periódico deverá lutar com a intransigência leninista contra a influência política dos partidos que se reivindicam da classe trabalhadora, mas que traficam para as massas uma política burguesa e pró-imperialista. Estes partidos, se opõem a ajudar ao leitor a sacar conclusões dos fatos, fazendo um jornalismo como faz a maioria das correntes centristas em sua imprensa. É contra isso que Trotsky alerta:

“Vamos supor por um momento que o GBL [Grupo Bolchevique-Leninista] consentisse em “simplificar” nosso programa, renunciando às palavras de ordem do novo partido e da Quarta Internacional, renunciando às criticas implacáveis aos socialpatriotas (chamando-os pelo nome), renunciando às críticas sistemáticas contra a Esquerda Revolucionária e especialmente de [seu dirigente Marceau] Pivert. Eu não sei se um jornal como esse se tornaria, com a ajuda de uma varinha mágica, um jornal de massas. Eu duvido. Mas ele iria certamente se tornar um jornal partidário do SAP [grupo centrista alemão] ou de Pivert. A essência da corrente de Pivert é precisamente essa: aceitar as palavras de ordem “revolucionárias”, mas não retirar delas as conclusões necessárias, que são um rompimento com Blum e Zyromsky [dirigentes da socialdemocracia francesa], a criação de um novo partido e de uma nova Internacional. Sem isso, todas as palavras de ordem “revolucionárias” se tornam nulas e vazias. No presente estágio, a agitação de Pivert é um tipo de ópio para os trabalhadores revolucionários. Pivert quer ensinar-lhes que alguém pode ser a favor da luta revolucionária, da “ação revolucionária” (pegando emprestada uma frase muito em voga) e, ao mesmo tempo, permanecer em bons termos com a escória chauvinista. Tudo depende do seu tom, percebe? É o tom que faz a música. Se o tigre rosnasse o som de um pinguim, todo o mundo ficaria encantado. Mas nós, com nossa linguagem rude, devemos dizer que os líderes da Esquerda Revolucionária estão desmoralizando e prostituindo a consciência revolucionária. Eu lhes pergunto: se vocês renunciassem às palavras de ordem que são ditadas pela situação objetiva, e que constituem a própria essência do nosso programa, em que nos distinguiríamos dos seguidores de Pivert? Em nada. Seríamos apenas pivertistas de segunda-mão. Mas se as “massas” tivessem que decidir entre os pivertistas, elas prefeririam os de primeira-mão aos de segunda.” (Trotsky, “O que é um ‘Jornal de Massas’? “ em A Crise da Seção Francesa, 30/11/1935).

Nesta luta o jornal cumprirá o papel de articulador entre a LC e seus leitores pela construção de um partido comunista dos trabalhadores destinado a orientar a luta revolucionária por um governo próprio da classe.

A primeira edição do FdT nesse novo formato reflete a luta por livrar o marxismo do nosso tempo, o trotskismo, da influencia do radicalismo intelectual pequeno-burguês para poder servir aos interesses imediatos, transitórios e históricos do leitor proletário.

Além de abordar conflitos cruciais como a guerra civil na Síria e a saúde nacional no governo Dilma em meio a importação de médicos cubanos para atender a população trabalhadora, segundo nossa corrente sindical entre os trabalhadores da saúde, o FdT registrará os pequenos mais importantes passos da LC no movimento operário, discutindo as polêmicas do Congresso dos Metalúrgicos de Campinas e região, um relato histórico de uma testemunha ocular da luta dos metalúrgicos de São José dos Campos contra a GM em 1985 e a denúncia do acordo escravocrata fechado pelo sindicato dirigido pela CSP/Conlutas em 2013, os avanços e limites da recente luta campanha salarial dos bancários para além do debate sindical, etc. O FdT terá como encarte a tese ao próximo Congresso da APEOESP do Movimento Unificado de Oposição Classista, do qual LC faz parte. Todavia, ressaltamos como ponto marcante do novo FdT, o debate contido em seu editorial da conquista da consciência dos trabalhadores como condição essencial para a reconstrução da IV Internacional.

Notas:

[1] Vide ENGELS, FRIEDRICH. Ergänzung der Vorbemerkung von 1870 zu „Der deutsche Bauernkrieg”(Suplemento à Prenotação de 1870 acerca da „Guerra Camponesa na Alemanha“)(1° de Julho de 1874), in: ibidem, Vol. 18, p. 513.; tb. LENIN, V. I. Shto Delat ? Nabolevshie Voprosy Nashevo Dvijenia (Que Fazer? Questões Candentes do Nosso Movimento)(Outono 1901 – Fevereiro 1902), Parte 1: Dogmatizm i “Svoboda Kritiki” (Dogmatismo e Liberdade de Crítica), Letra D: Engels o Znatchenii Teoretitcheskoi Borby (Engels sobre o Significado da Luta Teórica), in: ibidem, Vol. 6, pp. 22 e s. - https://www.marxists.org/portugues/lenin/1902/quefazer/index.htm

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